terça-feira, 17 de maio de 2011

Inquilinato.

Comecei tirando o pó da casa, para receber o novo inquilino.
Dei uma arejada nos sentimentos que estavam trancados;
deixei sair a poeira que antigo dono deixara.
Fui trocando as mobilhas que já estavam poídas demais;
Fui trocando as cores das paredes, que já estavam mofadas e desbotadas.
Deixei a decoração para que o novo inquilino a fizesse.
Enfim, um morador se interessou no imóvel.
Chegaste, então, bem de mansinho.
Como quem não quer nada.
Olhou bem o imóvel, checou se estava ao seu gosto.
Bateste na porta do meu coração e foste entrando...
Depois de receber o coração arejado
foste pintando com as tuas cores,
foste ajeitando à tua maneira,
foste decorando tua casa da forma que te deixasse mais agradado.
Mexeu.
Ajeitou.
Virou e revirou.
Enfim, instalou-se.
Por quanto tempo?
Não sei...
Só espero que seja por tempo indeterminado.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O desaguar das pérolas negras...

Ainda sinto teu calor
aconchegado em mim;
ainda sinto tua respiração
junto à minha;
ainda sinto...

Queria-te, agora, pedindo meu silêncio,

com tua boca tapando a minha;
queria-te, agora, percorrendo meu corpo,
com teus lábios aveludados;
queria-te, agora, envolvendo-me na tua ternura;
queria-te, agora...

Ah, como mareiam essas pérolas

por ainda te sentir,
por te querer e não mais poder...
As pérolas, enfim, cansadas de desaguar
fecham-se em suas conchas para esperar o dia amanhecer
e tentar ver o sol novamente...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam. (Clarice Lispector)

Como me machuquei caindo.
Despenquei tantas vezes de penhascos
e todo mundo só olhava...
Porém, eu me reerguia,
recompunha-me
e tentava seguir em frente!
Da última vez, caí em queda livre.
O medo de me estatelar no chão me consumiu...
O frio na barriga aumentou
e me gelou a alma...
Ai, quase não conseguia respirar...
Vi pontos, que antes eram minúculos, quase invisíveis,
com mais nitidez.
Soube, no entanto, que havia um anjo dentre os mortais;
um único que poderia me ajudar,
o meu anjo da guarda.
Foi, então, que, quando eu estava próximo do fim,
ele me estende a mão...
Ah, meu anjo, como tive medo de não ver tua face,
como tive medo de não sentir tua mão me salvando,
como tive medo...
Hoje vivo no ceu cercado pela nossa felicidade!